O norte do Piauí é conhecido regionalmente pela tradição e qualidade do seu queijo de coalho artesanal. A atividade queijeira é fonte de renda para centenas de produtores artesanais.
É na localidade da zona rural do município de Luís Correia (PI), conhecida como Brejinho de Fátima, que mora Sra. Dolores Fonteles, 70 anos, produtora de queijo desde criança, da época em que o produto era feito em prensa de madeira, coalhado com soro animal e transportado no lombo do jumento. Dona Dolores conheceu o projeto da Embrapa a partir de um encontro com o pesquisador Machado Pimentel. A oportunidade não poderia ser mais propícia, pois os produtores locais passavam por uma situação difícil, causada pelo processo de falência de um grande laticínio, que comprava todo leite produzido naquela região.
A falta de um comprador do leite era a preocupação da dona Dolores. Então, ela “perguntou ao marido o que a gente iria fazer com tanto leite”. Ele respondeu que iríamos continuar fazendo queijo e eu perguntava “pra quem”? “Quem iria comprar todo esse queijo? Eu pensava que não teria comprador”, relembra dona Dolores.
Entretanto, com a implantação do novo processo de obtenção do leite e de fabricação do queijo, dona Dolores aumentou a produção e conseguiu novos clientes. A melhoria da qualidade do produto fez com que o preço/kg aumentasse em 25%. A renda extra, permitiu à produtora pagar uma pessoa para fazer as tarefas diárias de casa, enquanto ela produz o queijo.
Em resumo, cerca de 10 pessoas, entre trabalhadores e familiares, são sustentados mensalmente com o dinheiro fruto dessa atividade econômica, relembra dona Dolores.
COCAL (PI)
Outro caso, aconteceu com o casal, Maria das Dores Machado e Eliézio Quaresma, produtores de queijo de coalho artesanal no município de Cocal, Piauí. Eles unem esforços na labuta cotidiana. Enquanto, ele cuida do gado e faz a ordenha das vacas leiteiras, ela produz o queijo e cuida dos afazeres domésticos. Depois de um período turbulento, em que quase perderam a propriedade em que residem, o casal agora passa por uma fase próspera. Grande parte desse resultado positivo se deu ao ingresso do casal no programa Balde Cheio, da Embrapa Pecuária Sudeste, e o projeto Melhoria da Produção do queijo de coalho artesanal, da Embrapa Agroindústria Tropical.
A partir do programa Balde Cheio, Eliézio substituiu a vegetação utilizada para alimentação do gado por um capim mais produtivo e nutritivo, resultando em vacas mais robustas e maior produção de leite. Além disso, a área utilizada pelo rebanho leiteiro foi dividida em parcelas com objetivo de melhorar o manejo da pastagem, e um sistema de irrigação foi instalado na propriedade.
Sr. Eliézio revela que no início as mudanças não ocorreram de forma pacífica. “Eu temei muito, porque tinha medo do gado morrer de fome. Mas foi o melhor negócio que nós fizemos. A produção aumentou e o trabalho diminuiu”, concluiu Sr. Eliézio.
O aumento na produção de queijo foi seguida pela entrada do casal no projeto de Melhoria da Produção do queijo de coalho.
A produção de queijo do casal, que era em média de 2,5 quilos/dia, aumentou para 10 quilos/dia. O produto também ficou mais valorizado (cerca 70%), passando de R$ 7,00 para R$ 12,00/kg (dados de 2012).
CURRAIS NOVOS (RN)
Currais Novos (RN), localiza-se na região do Seridó, junto à divisa com o estado da Paraíba, a 172 km da capital estadual, Natal. Currais Novos aderiu ao projeto de Melhoria na Produção do queijo de coalho artesanal. Foram mais de 60 produtores artesanais treinados em conjunto com a Emater-PI. A região do Seridó é grande produtora de queijo. Currais Novos é uma área tradicional de produção de queijo de coalho, congregando 11 municípios do entorno na atividade queijeira, afirma a Coordenadora Regional da Emater de Currais Novos, Maria José Carvalho.
Segundo Maria José Carvalho pode-se ver melhorias no processamento e na higienização e a expectativa é que a produção possa ser direcionada ao Programa de Compra direta da merenda escolar e também no fornecimento a Casas de idosos e Hospitais da região, garantindo assim a sua comercialização.
Em síntese, com baixos custos de investimento e a rapidez com que os conhecimentos e tecnologias são incorporados às práticas cotidianas dos agricultores familiares e/ou produtores artesanais é possível gerar grandes resultados, que impactam na qualidade de vida destas pessoas, afirma João Bosco Cavalcante, analista da Embrapa Agroindústria, que participou ativamente do projeto.
Fonte: Revista Agroindústria Tropical, Embrapa, Dez-Mar, 2012, No.140.